Imunidade baixa: quais são os alertas e como fazer esse diagnóstico?

A alta procura por multivitamínicos durante a pandemia expôs a preocupação dos brasileiros em turbinar a imunidade, numa tentativa de barrar ou criar resistência aos vírus. As coloridas vitaminas passaram a ser oferecidas também às crianças, especialmente na chegada do inverno. Mas quais seriam os alertas de imunidade baixa e como fazer o diagnóstico e correto tratamento?

Convidamos a pediatra e alergista da Clínica de Alergia Rosana Neves, dra. Marina Medeiros, para esclarecer alguns pontos sobre este tema:

O que caracteriza a baixa imunidade?
Dra. Marina Medeiros:
É caracterizada por uma resposta imunológica (de defesa) não esperada para o contato com os micro-organismos, como vírus e bactérias, que acontece por um defeito no sistema imunológico, atualmente chamado de erro inato da imunidade. Existem muitas doenças provocadas por alguma alteração do sistema imune, exemplo da agamaglobulinemia, em que os doentes não conseguem produzir anticorpos.

Quais são os sinais de alerta que os pais devem observar?
Dra. Marina:
Infecções de repetição são o grande sinal de alerta, como quatro ou mais otites ao ano, duas ou mais pneumonias em um ano, estomatites, abscessos de repetição, assim como infecções graves que necessitam de internação. Algumas doenças também nos fazem pensar nos erros inatos da imunidade, como asma grave e doenças autoimunes. Reação grave à vacina BCG também é um fator que precisa ser investigado, como também reações importantes a outras vacinas. História familiar de imunodeficiência precisa ser considerada como sinal de alerta.

Qual a importância de relatar esses sinais ao médico que acompanha a criança para uma investigação mais detalhada?
Dra. Marina:
A real importância é analisar os quadros referidos e verificar se há indicação para uma investigação mais detalhada do sistema imune, o que nem sempre é fácil, mas, quando se chega a um diagnóstico de imunodeficiência, o paciente recebe o tratamento
adequado ao caso, fator que pode proporcionar melhor prognóstico e qualidade de vida. Vale lembrar que crianças menores têm infecções virais com muita frequência (aproximadamente dez episódios ao ano) e isso não representa um erro inato da imunidade e nem baixa imunidade.

Optar pela suplementação de vitaminas é um dos primeiros pensamentos dos pais. Como fica o papel da alimentação na construção da imunidade?
Dra. Marina:
A alimentação deve ser a mais saudável possível. Incluir frutas, legumes, carnes em proporções adequadas, assim como a ingestão de água deve ser sempre lembrada. Todos os nutrientes da alimentação são importantes para o equilíbrio do organismo, incluindo o sistema imunológico. Caso haja algum déficit, este deverá ser corrigido, mas a suplementação com vitaminas, aleatoriamente, para melhorar a imunidade não é recomendada, pois não terá o efeito desejado e algumas vitaminas em excesso podem levar a quadros de intoxicação para o paciente.

Brincar ao sol, praticar atividade física e vacinação. Qual a importância desses outros fatores quando falamos de infecções repetitivas?
Dra. Marina:
Exposição ao sol e brincadeiras ao ar livre são elementos importantes para fornecer estímulo ao sistema imunológico que está em desenvolvimento, assim como as vacinas que contribuem para a formação de anticorpos contra determinados agentes infecciosos. Esse conjunto contribui muito para o desenvolvimento e manutenção de um bom funcionamento do sistema imune.

Podemos afirmar que a construção da imunidade de uma criança começa na gestação?
Dra. Marina:
Sim, pois, no período de gestação, os nutrientes ingeridos pela mãe passam através da placenta e irão contribuir para a formação do bebê e da sua microbiota (pele, intestino, etc.). Essa microbiota tem papel importante para o bom desenvolvimento do organismo e sistema imunológico após o nascimento do bebe e é formada no organismo da criança até os dois anos de idade. Portanto, alimentação saudável, bons hábitos e a prática de atividade física são essenciais para um bom funcionamento do sistema imunológico em qualquer fase da vida, incluindo a gestação.

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